Por Eugenio Mussak*
Poucas imagens são mais simbólicas e fortes do que a dos quatro cavaleiros do apocalipse, relatados no último livro da bíblia. Os cavaleiros, quando chegam a algum lugar, trazem infelicidade, pois são portadores das grandes desgraças que assolam a humanidade: a guerra, a doença, a fome e a morte.
Tornou-se comum a alusão aos quatro cavaleiros, quando as pessoas atravessam um período em que as coisas não vão bem, o que já aconteceu com todos nós. Nessas ocasiões ainda ficamos com a impressão de que falta alguma desgraça para acontecer. Algum dos quatro cavaleiros – senão todos – está à espreita atrás da porta.
No mundo profissional também existem cavaleiros do apocalipse, mas, em geral, eles são criados pelas próprias pessoas. Eles não esperam atrás da porta, nós os colocamos para dentro do quarto. Ou do escritório, é claro. Os quatro cavaleiros do apocalipse profissional são: a desatualização, a indolência, a procrastinação e a arrogância. Pode ser que você, leitor, ache que existem outros, mas em minha opinião, esses quatro são terríveis.
A desatualização é mortal porque vivemos em um mundo em que as mudanças acontecem cada vez mais rapidamente. Um mundo em que o conhecimento dobra a cada ano, em que as profissões devem ser permanentemente atualizadas, em que a tecnologia nos permite saltos de qualidade e de velocidade impressionantes. Nesse mundo o profissional que não se atualiza de modo permanente, tanto nas questões objetivas de sua atividade, quanto nas questões gerais, está correndo o grave risco da obsolescência e da substituição. O mercado não admite e não tolera os desatualizados.
A indolência, por sua vez, nunca foi bem aceita, a não ser pelos nobres da antiguidade, que consideravam que o trabalho não foi feito para os “gentis homens”, e sim para os serviçais ou para os escravos. Sim senhor, trabalhar já foi sinônimo de decadência. Hoje é diferente. A decadência é descendente direta da indolência. Preguiça não combina com progresso. Lassidão não rima com sucesso. Desorganização não orna com evolução.
A procrastinação é destrutiva por um motivo análogo ao da desatualização. Com a velocidade do mundo moderno, deixar para depois significa que alguém pode fazer antes que você. Adiar uma tarefa ou uma decisão pode custar caro. Não fazer hoje significa ter que fazer amanhã, quando haverá outra coisa para ser feita. De nada adiantará ler amanhã o jornal de hoje, pois notícias velhas provocam respostas ultrapassadas. O procrastinador é lento demais para o mundo atual.
E a arrogância, se a examinarmos bem, é a grande paralisadora do desenvolvimento pessoal. O arrogante não ouve, não aceita que poderia fazer mais bem feito, que é passível de erro, e o pior, que sempre tem o que aprender, apesar de ter chegado aonde chegou. O arrogante pode até ser competente, mas acredite, não o será para sempre, pois falta-lhe a humildade, que é a qualidade dos aprendizes, que aliás é o que temos que ser na atualidade, eternos aprendizes. Cuidado com os quatro cavaleiros do apocalipse, eles não vêm mais a cavalo, vêm montados em mísseis!
(*) É professor do MBA da FIA e consultor da Sapiens Sapiens.